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segunda-feira, outubro 26, 2009

a história de Toni Kurz


Vi ontem um documentário que me deixou perplexo em como a falta de sorte em determinados momentos é implacável. O documentário referia a tentativa do alpinista alemão Toni Kurz e mais 3 companheiros em conquistar o cume do Eiger nos Alpes, escalando-o pela sua face virada a norte, em 1936. A face norte dos Alpes é considerada a mais difícil de escalar, e especialmente o cume Eiger foi considerado em tempos como impossível de alcançar pela sua face a norte, acabado por ser o último a ser escalado em 1938. Este era o segundo grupo de alpinistas a tentar escalar esta face, tendo o primeiro falhado. Naqueles tempos, o salvamento com helicóptero não era uma opção, daí que uma escalada deste nível era encarada como uma prova de vida. Toni e seus companheiros iriam escalar o Eiger por uma nova rota que o grupo anterior, e tinham como trunfo um jovem alpinista reconhecido na altura como um dos melhores, de nome Andreas Hinterstoisser. Ele conseguiu a proeza de atravessar horizontalmente uma parte de rocha gelada de difícil passagem que dava acesso a uma possível rota até ao cume. Suportado pelos companheiros, Andreas colocou uma corda a atravessar o que agora se chama a Travessa de Hinterstoisser para que os seus companheiros a conseguissem atravessar. Já do outro lado, Andreas retirou a corda uma vez que o grupo não contava regressar pelo mesmo caminho. No entanto, na altura nao se sabia que sem a corda a atravessar a rocha, não era possível atravessar em sentido inverso. Mais á frente, após um comum deslizamento de rochas, um dos companheiros de Toni, Willy Angerer, foi atingido na cabeça com alguma gravidade. A única protecção que tinham era gorros quentes e não se usavam capacetes. O grupo decidiu continuar, mas no dia seguinte o companheiro atingido começou a sentir dificuldades em acompanhar o grupo e acabaram por desistir de chegar ao cume, sendo agora o objectivo trazer Willy em segurança á base da montanha. Retrocederam pelo caminho que seguiam, sendo este o único possível no ponto em que encontravam. Dadas as dificuldades com Willy, o caminho foi percorrido lentamente e quando chegaram á Travessa de Hinterstoisser ficaram a saber que nao era possível atravessá-la. A única opção era então continuar a descer. Ao preparar o que iria servir suporte para a descida, Andreas teve de se desligar por uns momentos da corda de segurança dos companheiros presa na montanha. Foi então que uma inesperada avalanche atingiu o grupo. Andreas, sem a ligação aos companheiros, desapareceu com a neve. Toni, no meio dos 2 companheiros, caiu do ponto onde estava, juntamente com o Willy que estava no seguimento da sua corda de ligação. A ligação á montanha segurou os alpinistas, mas o efeito pêndulo fez com que Willy fosse atirado contra a montanha, tendo morte imediata. No cimo da corda estava Edi Rainer, apertado contra a montanha devido ao peso dos seus 2 companheiros pendurados no meio do nada. Edi morreu em poucos minutos asfixiado. Toni não sofreu nenhuma lesão na queda, mas encontrou-se subitamente pendurado a 700 metros do chão, com dois companheiros mortos, um por cima, outro por baixo, sem poder alcançar a montanha. Mais tarde nesse mesmo dia, uma equipa de salvamento subiu a um ponto perto de Toni, mas sem o conseguir ver. Com escassa luz do dia e com o agravar do tempo, não lhes foi possível fazer nada, a não ser prometer a Toni que viriam na manha seguinte. Toni tinha de sobreviver uma noite, pendurado numa corda, ao relento. A probabilidade de sobrevivência era de mínima a nula. No entanto, na manha seguinte a equipa de salvamento regressou e encontrou Toni ainda vivo, mas com a mão esquerda gelada, uma vez que tinha perdido a luva na queda. A equipa estava por baixo de Toni e não conseguia escalar a um ponto por cima, onde o poderiam puxar. Pediram então a Toni que teria de ser ele a chegar até á equipa, cortando a corda por baixo dele, "libertando" Willy e depois trepando pela corda acima até onde Edi se encontrava. Aí, Toni teria de usar a corda para descer até onde a equipa de salvamento se encontrava. Com muito esforco, Toni fez o que lhe foi pedido, mas descobriu que a corda restante não iria ser suficiente para cobrir os 50 metros que o separavam do bilhete de regresso a casa. Para obter uma corda nova, teve de separar a pequena corda que tinha e unir os pedaços apenas com uma mão, tarefa que lhe levou 5 horas a finalizar. Mandou uma ponta da fina corda para baixo e a equipa atou-lhe a nova corda que ele usaria para descer. Enquanto Toni subia a nova corda, a equipa reparou que a nova corda não era comprida suficiente e com um nó prolongou-a com uma segunda corda. Preparado para descer, Toni considerou que teria de correr a corda em redor da cinta e pelo estribo, pois não tinha forças suficientes para se segurar durante a descida. Enquanto descia e apenas a alguns metros de ser salvo, Toni chegou ao ponto que unia as duas cordas e encontrou um nó grande de mais para passar pelo estribo. Desesperado, tentou forçar o nó, mas sem sucesso. A equipa incentivava-o para continuar a tentar, mas após todo o esforço que lhe foi exigido para sobreviver até aquele momento, Toni desistiu exausto. Disse em voz alta: "Ich kann nicht mehr" (não consigo mais) e morreu.

Nao consigo imaginar o que passaria pela cabeca de Toni após toda aquela sequência de má sorte. A face norte do Eiger tirou a vida aos primeiros 9 alpinistas que o tentaram escalar, e conta mais de 50 até aos dias de hoje.

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2 comentários:

Nao consigo imaginar o que sera morrer em tal estado de espirito... Se ele o encarou como a unica maneira de se libertar de toda essa ma sorte e as mortes dos amigos, ou se morreu a pensar que era uma bosta, ou que ao menos pode limitadamente escolher quando morrer... Bolas :S
por Blogger LSDee, Às 11:44 da tarde  
Eu apostaria mais no "fôsga-se, depois de tudo o impossível que consegui fazer... nao é justo!" A frustração deveria ter sido tanta...

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